Criação de abelhas sem ferrão em casa ajuda na preservação da espécie
- Naturaliza
- 16 de nov. de 2019
- 4 min de leitura
Atualizado: 16 de abr. de 2020
A criação de abelhas sem ferrão é um hábito que vem se tornando comum nos últimos anos. Essas espécies, que são muito mais amigáveis que as famosas abelhas africanas, estão sendo criadas em casas e até em apartamentos por não oferecerem riscos à população.

A prática é bastante simples e ajuda na preservação desses insetos que são de extrema importância para produção de alimentos no mundo. Desde o começo do século, casos de mortes de polinizadores vêm crescendo significativamente - incluindo abelhas, pássaros, morcegos e borboletas. O declínio desses polinizadores gera graves consequências para os seres humanos, pois juntos, esses insetos e animais são responsáveis pela polinização de mais de 75% das principais culturas alimentares do planeta.

O caso de mortes de abelhas é o que mais chamou a atenção nos últimos anos. No Brasil, esses registros são alarmantes desde 2005, mas no final de 2018 e inicio de 2019 o número de mortes chegou a seu ápice. Entre dezembro e faveiro, foram registrados mais de 500 milhões de abelhas mortas em quatro estados brasileiros, segundo um levantamento realizado pela Agência Pública e Repórter Brasil. Desse total, 400 milhões de mortes foram registradas no Rio Grande do Sul, 7 milhões em São Paulo, 50 milhões em Santa Catarina e 45 milhões em Mato Grosso do Sul, segundo estimativas de Associações de apicultura, secretarias de Agricultura e pesquisas realizadas por universidades.
Esse grande número de mortes está relacionada às mudanças climáticas e o mau uso dos agrotóxicos na agricultura. No Brasil, das 141 espécies de plantas cultivas para alimentação humana e produção animal, cerca de 60% dependem em certo grau da polinização destes insetos.
Por isso, a preservação das abelhas se tornou uma prática muito importante e vem ganhando vários adeptos nos últimos anos. Robison Luis Cossolin, técnico agropecuário, possui uma criação conservacionista desde 1998, mas desde criança já tinha admiração por esses insetos. “Uma vez fui passar férias na casa dos meus padrinhos, e ele tinha uma colônia de jataí abrigada em uma caixa de madeira, dessas que vêm uvas, fiquei fascinado com o trabalho delas".

Cossolin faz a criação em sua casa e já chegou a ter mais de 300 colônias ativas, hoje ele conta com cerca de 100 colônias e tem em torno de 18 espécies de abelhas nativas brasileiras sem ferrão, entre elas encontram-se as abelhas Jataí, Mirim Droyana, Mirim Cossolinii, Mandaçaia, entre outras. Além disso, o cultivador faz demonstrações de suas criações em escolas, grupos escoteiros, encontros de meliponicultores e para visitantes que queiram conhecer o Meliponário Abelhas Brasileiras, que fica na cidade de Cambé (PR). Todo esse trabalho é um hobby para ele, que busca pela preservação e seleção genética das abelhas. "É importante divulgar e incentivar trabalhos de preservação das abelhas brasileiras, com a intenção de alcançar mais adeptos à criação racional das abelhas em áreas urbanas".
COMO FAZER A CRIAÇÃO DE ABELHAS SEM FERRÃO EM CASA

Na casa do cultivador existem diversas caixas de madeiras servindo de morada para as abelhas. Para fazer a criação é simples. O primeiro passo é criar uma "armadilha" que é a Isca-pet. "A garrafa é banhada com ferormônio (extrato de própolis e ceras) concentrado para atrair abelhas jataí e outras espécies de abelhas nativas, com pito de madeira de lei banhado em seu interior com ferormônio concentrado (extrato de própolis e ceras), com jornal para garantir a temperatura ideal dentro da garrafa e plástico preto de 40 micras para garantir a quebra total de luz dentro da garrafa".
Depois desse processo, as abelhas são transferidas para uma caixinha de madeira que possuí um furo para que elas possam sair e fazer o seu trabalho. A revisão das colônias deve ser realizada pelo menos a cada 30 dias, para observar a presença das crias e rainha, alimentos, excesso de batume e favos mofados, presença de inimigos naturais e lixo.
Além dessa revisão, Cossolin conta que para criar as abelhas é preciso dispor de uma rotina e cuidados como plantar hortas (ervas e temperos), flores, arbustos, pomares e árvores melíferas e poliníferas, para propiciar um pasto apícola para as abelhas, ajudando no plantio das espécies vegetais que floresçam em várias estações do ano. Proteger as colônias do sol direto, chuva, ventos fortes e de alguns inimigos naturais, como aranhas, sapos, formigas e lagartixas.
CURIOSIDADES
Para a região Norte do Paraná, as espécies que Cossolin mais recomenda para a criação são: Jataí; Mirim Droyana; Mirim preguiça; Mirim Julianii; Mirim Lambe-olhos; Borá; Tubuna; Mandaguari; Mandaçaia; Manduri e Uruçu amarela.
As espécies também variam a quantidade de indivíduos de cada colônia de acordo com as espécies, a Jatí por exemplo, pode ter de 8.000 a 12.000 operárias em uma colônia, a Mirim Droyana entre 1.000 abelhas, a Mandaçaia de 600 a 1.2000 e a Uruçu de 800 a 2.000 operárias.
Além disso, todas as espécies de abelhas nativas brasileiras tem um ciclo de vida igual. As rainhas vivem em torno de 2 a 3 anos, os zangões 6 meses e as operárias entre 40 a 60 dias.
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